domingo, 30 de maio de 2010

O carteiro e o poeta

Sinopse Por razões políticas o poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret) se exila em uma ilha na Itália. Lá um desempregado (Massimo Troisi) quase analfabeto é contratado como carteiro extra, encarregado de cuidar da correspondência do poeta, e gradativamente entre os dois se forma uma sólida amizade.

A teoria da literatura com o mestre Neruda

O filme O Carteiro e o Poeta emociona e acaba sendo uma verdadeira aula de literatura. E uma de suas primeiras lições é sobre a função estética do texto literário. As mulheres parecem seduzidas não pelo poeta, mas sim pelo modo como ele se expressa, com beleza de seu texto, com o romantismo. E Mario percebe a força desse recurso e a partir disso, de se interesse em motivar as emoções nas mulheres, vemos o despertar de seu interesse pela poesia. Em uma das conversas com Neruda, o poeta também lhe explica o conceito da intangibilidade do texto literário. Ele revela que a poesia não pode ser explicada. Aquilo que ele disse em seu poema não pode ser dito com outras palavras, pois pode se tornar banal ou perder o seu valor, não só estético, mas a sensação que causa no leitor. Ou seja, o texto literário é diferente do texto comum. Não se pode resumi-lo ou explicá-lo com outras palavras. A poesia deve ser sentida. A experiência deve ser vivida com a alma, aberta para compreender seu sentido. No trecho em que Mario lê a poesia em que fala que ele cansou de ser homem, temos uma espécie de função catártica. O carteiro sente a mesma coisa, mas nunca soube como se expressar. Ele aqui fica um pouco mais aliviado, purificado, enxergando a si mesmo no poema. Outro conceito presente no texto literário e exposto no filme é o de metáfora. Mario surge cheio de dúvidas e Neruda lhe diz que metáforas são usadas para comparar coisas, e que são muito usadas na poesia, e exemplifica, com a frase “o céu está chorando”, que significa que está chovendo. A cena em que Neruda declama um poema sobre o mar, e que os sons e encadeamentos das palavras provocam a sensação em Mario do próprio movimento, o ritmo do mar, do bater das ondas nas pedras, na praia, retratando também a função estética. O modo como ele recita revela a força do mar e a escolha das palavras mostra sua personificação, o mar que beija, acaricia, além de ser uma forma nova de usá-las. E Mario afirma que se sente balançando em meio ao mar de palavras. A mudança de atitude de Mario perante o mundo é reflexo da função cognitiva, ideológica da poesia, especialmente da temática social, de Neruda. Ele passa a questionar as coisas, não aceita mais que seja explorado, que as pessoas sejam tratadas injustamente e passa a lutar por seus direitos. E essa transformação só se dá depois que ele passa a ter contato com a literatura e com o poeta. Além disso o carteiro passa a ver o mundo com outros olhos, valorizar as pequenas coisas e belezas cotidianas que por vezes passam despercebidas aos olhos menos atentos. Assim o mundo de Mario ganha novas cores e mais poesia. E sua história culmina com sua morte, resultado de seu desejo de lutar por seus ideias e pela arte literária, motivadas pela leitura e pelo contato com Neruda.

Apreciação do filme O carteiro e o poeta, produzida para a aula de Teoria da Literatura I

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