sexta-feira, 2 de julho de 2010

Eles nunca vêem o sol!




São Paulo, terra dos contrastes. Adentrando a principal metrópole do país, essa é a única definição que nos vêm à mente. Ao lado do glamour, dos grandes edifícios e outdoors que impressionam qualquer pessoa vinda de uma pequena cidade, centenas de barracos espremidos em encostas, as chamadas favelas, depósito de gente, dos filhos renegados. Sim, esquecidos. No universo do individualismo, não pensamos em mais ninguém. Nem neles. A não ser quando nos encaram de frente, na desigualdade estampadas nos congestionamentos das marginais: carrões e belas mansões protegidas por selvas artificiais convivem pacificamente ao lado dos pequenos casebres.
Mas o que será que tanto atrai na metrópole? Qual a sua magia? Seria o mito das oportunidades, a idéia de vencer em São Paulo, cidade que parece absorver qualquer pessoa que chegue com vontade de mudar de vida. Pelo que se vê, a realidade não é assim. As pessoas são jogadas, tal qual num grande depósito humano. Talvez reserva, para toda necessidade, seja pra conseguir votos, fazer merchandising ou mão-de-obra barata, se necessária.
Lá no famoso bairro Morumbi, por exemplo, na região que abriga a Rede Globo, um dos meios de comunicação mais poderosos, além de outros bancos, hotéis pode-se observar o paraíso e o inferno da capital. Dois mundos separados por um rio. Essa é a visão.
No shopping, que talvez dê o que comer a essa gente, um misto de encantamento e assombro. Como podem as diferenças conviver tão próximas. Tanto luxo e beleza para quem? Para uma parcela ínfima. Aqui a beleza para o pobre é só o brilho das lojas, grifes, vitrines. O resto não é vida. É correria, atropelo. É viver pra trabalhar e trabalhar pra viver. Dizem que essa metrópole nunca dorme, mas também, quem poderia dormir em meio a tanta desigualdade?
No mundo dos executivos, intelectuais, formadores de opinião, que sequer olham pra realidade a qual descrevem. Ao contrário, esbarram, a análise mais clara a respeito da vida nesse mundo de sedução e espanto surge da boca de um motorista. Numa conversa, um amigo lhe diz: “Aqui a vida nunca pára, eles sequer vêem o tempo passar”, ao que ele responde: “É, mas eles nunca vêem o sol!”.



Crônica, produzida em 2003, quando eu cursava jornalismo, para a disciplina de rádio, do professor Chamadoira, tendo como inspiração uma visita que eu fiz à capital, em busca de um estágio, quando a possibilidade de viver na cidade da garoa me chocou... a foto que ilustra a crônica encontrei numa rápida pesquisa no banco de imagens do Google, atribuida a T uca Vieira

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