
Quem estava acostumado a ver Cuba Gooding Jr atuando somente em comédias ou filmes policiais deve ter se surpreendido com seu desempenho no emocionante Meu nome é Rádio (EUA, 2003). Cuba, no filme do diretor Michael Tollin interpreta um deficiente mental, chamado James Robert Kennedy, que sofre com o preconceito dos moradores da cidadezinha em que vive e com o deboche dos alunos do colégio por onde costumava passear.
Sua vida se resumia a rotina de perambular pelas ruas com um carrinho de supermercado, onde carregava tudo de interessante que encontrasse no caminho, sem ser realmente visto pelas pessoas, a não se como um obstáculo do qual deviam se desviar. Mas tudo começa a mudar quando ele conhece o técnico do time de futebol americano e professor da escola Harold Jones, interpretado por Ed Harris, que é o primeiro a enxergar o ser humano que há ali, naquele garoto que costumava observar de longe seus treinos.
Contudo, a aproximação dos dois se dá depois que James é humilhado por alguns jogadores do time, trancado num pequeno depósito. Harold encontra o jovem assustado, chorando num canto e fica comovido. O fato aqui serve bem de alegoria, exemplificando todo tipo de desrespeito que a sociedade geralmente dispensa aos que chamam de diferentes. Depois do episódio o homem sente que precisa ajudar aquele garoto, o qual não sabe sequer o nome, já que ele era de falar pouco. Sendo assim, Harold decide chamá-lo de Rádio, já que ele gostava muito desse objeto.
E assim os laços entre os dois vão se estreitando e o técnico se revelar um verdadeiro salvador, divisor de águas na vida de Rádio, responsável por sua inclusão. Mas esse processo não foi nada fácil. O professor enfrenta muitas pessoas e sua intolerância na tentativa de fazer com que Rádio tenha uma vida normal. Além de chamar Rádio para ser seu assistente no time, ele passa a convidá-lo para frequentar suas aulas no colégio. E Rádio, para seu orgulho, se dá bem em todas as situações, e evolui, passando até mesmo a conversar mais. Isso nos mostra como às vezes o que falta para uma pessoa é uma oportunidade, alguém que acredite em seu potencial, e que a olhe com um olhar mais humanizado.
Porém ,a mãe do jovem James desconfia dessa aproximação. Pudera, estava acostumada somente com os maus tratos e preconceitos, de uma cidade que desviava e fugia de seu filho quando o encontrava nas ruas, como se ele fosse um criminoso. Aqui ela representa também aqueles pais despreparados, ou com vergonha de seus filhos, situação corrente até os dias de hoje. Sabe-se que existem muitos deficientes reclusos em suas casas, por conta do medo que seus familiares tem da reação da sociedade, ou por pensarem que eles não serão capazes de levar uma vida normal.
Até mesmo a diretora mostra sua falta de preparo para lidar com a situação. Se no fundo tinha vontade de ajudar Rádio, não sabia lidar com o preconceito dos pais e com seus próprios temores em relação ao comportamento do garoto. Acreditava mesmo que seu convívio com seus outros alunos “normais” poderia ser perigoso. A situação ilustra bem o fato de que o maior problema hoje do processo de inclusão não é a falta de estrutura, mas o desconhecimento, o medo que muitos professores tem dos alunos que apresentam necessidades especiais. No fundo todos sabem que todos tem direito a educação e ao tratamento igual, mas ninguém sabe muito bem como lidar com isso e sentem-se desconfortáveis em lidar com uma pessoa com problemas mentais, por medo de suas reações e por acreditarem que eles não serão capazes de aprender. Ignoram o fato de que eles podem sim ter suas habilidades desenvolvidas, algumas até certo ponto, mas que principalmente tem direito ao respeito e a convivência com a sociedade.
E no filme o persistente Harold consegue provar para mãe de Rádio que suas intenções são as melhores, de consertar algo que acredita ser errado – o fato do jovem ser excluído da sociedade. Já com a diretora o processo foi mais difícil, visto que com o tempo os pais vão até ela reclamar, do temor que sentem em relação ao jovem, e que o time da escola não está bem por conta de sua influência, dizendo que o melhor era afastá-lo do convívio com outros jovens. Harold, que praticamente havia adotado Rádio, chega até a pensar em largar o cargo, por conta do preconceito que sentem.
Se o filme choca, retrata bem o que sociedade faz com o diferente ou com aqueles que considera menores: mais velhos, doentes, outras raças ou com menor poder aquisitivo. E a situação se agrava quando a pessoa apresenta mais de uma dessas características, como na cena em que Rádio sai distribuindo os presentes que ele ganhou no natal. A polícia o prende: como um negro e com problemas mentais poderia distribuir tantos presentes? Mais um ponto para ser discutido.
Mas o bom é que com o passar do tempo Rádio passa a ser cada vez mais querido pelas pessoas. Na verdade as trata melhor do que ele é tratado. Assim, em certa altura do filme, um dos personagens diz que não são eles que estão ensinando Rádio, mas sim que ele é que está lhes ensinando. E outra das lições que ele ensina é que devemos dar mais importância a família, aos laços e contato humano.
Rádio, enfim, retrata a maioria das pessoas, que apesar de serem humanos, por vezes de coração enorme, não são tratadas com o mínimo de respeito, tampouco carinho, como acontece com deficientes, negro, velhos, pobres e outras pessoas que acabam sendo diminuídas nesse mundo do ter, do preconceito, da intolerância. E o filme nos mostra a diferença que uma amizade, um olhar amoroso e o mínimo de atenção faz na vida de uma pessoa, podendo transformar realidades. Tanto que no final temos a mensagem de superação, e Rádio hoje é um dos melhores técnicos de futebol americano. E essa é a grande mensagem do filme, que todos somos capazes, basta que nos dêem uma oportunidade e um olhar mais humano.
Resenha do filme Meu nome é rádio, produzida para a disciplina de Comunicação e expressão
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