quarta-feira, 13 de abril de 2011

Relaxa!


Um pouco de Martha Medeiros: Vou usar o espaço para publicar o trecho de um texto escrito por ela, no qual comenta o filme "Na natureza selvagem". Gosto muito dela e é uma bela reflexão


"Fixemos nossa atenção no ônibus mágico que cada um traz dentro de si, ainda. Ao menos aqueles que não perderam o idealismo, o romantismo e a porra-louquice da juventude. Eu conservo o meu "ônibus" e estou certa de que você tem o seu. Porque, francamente, tem hora que cansa viver rodeado de arranha-céus, com trânsito congestionado, com pessoas óbvias, com conversas inúteis e estando tão distante de mares, lagos e montanhas. Todo dia a gente perde um pouquinho da nossa identidade por causa de medos padronizados e cobranças coletivas. Antes de descobrir qual é a nossa turma - seja a turma dos bem-sucedidos, dos descolados, dos espertos - é bom estar agarrado ao que nos define, e isso a gente só vai descobrir se estiver em contato com nossos sentimentos mais primitivos. Não é preciso ir ao Alasca, não é preciso radicalizar, mas manter-se fiel à nossa verdade já é meio caminho andado"

Você já doou um livro?

Texto publicado sobre a campanha para arrecadação de livros feita pela minha agência


Banco do Brasil doa livros para a Biblioteca Municipal


A agência Cidade do Livro, do Banco do Brasil, doou essa semana 220 livros para a Biblioteca Municipal Orígenes Lessa (BMOL). Entre os títulos estão obras da literatura brasileira e universal, antropologia, artes e didáticos.
Todos os livros foram arrecadados entre os funcionários da unidade com a intenção de contribuir com o acervo da BMOL e comemorar a mudança do nome da agência, que passou a se chamar Cidade do Livro, em homenagem à Lençóis Paulista.
A iniciativa faz parte de um programa que tem como objetivo mobilizar os funcionários a participar de ações que promovam o desenvolvimento social, além de motivar o trabalho em equipe.
A campanha está em consonância com os valores do Banco do Brasil, que apóia ações voltadas para o desenvolvimento das comunidades e nas áreas de educação e cultura, atuando de acordo com os princípios da responsabilidade socioambiental.

Memórias da rua 15 de novembro

Que cidade não tem sua rua XV?

Recordando-se a paisagem do Centro da cidade do início da década de 70, especialmente a da Rua 15 de Novembro, o que se nota é que ela era uma rua essencialmente residencial, pois a maioria dos prédios comerciais existentes na época eram anexos às residências. Entre algumas das famílias que viviam ali estão: Aiello, Bosi, Brega, Campanari, Canova, Capoani, Carani, Chitto, Ciccone, Coelho, Coneglian, Faioli, Paccola, Parpinelli e Orsi. Lá também aconteciam importantes eventos, como os desfiles cívicos, comemorativos do aniversário da cidade, e os de blocos carnavalescos.
As principais casas comerciais, e também mais tradicionais, eram a Casa Zillo (atual Escritório Zillo), a Casa Donato (hoje Estacionamento) e a Casa Paccola. Nelas, os lençoenses encontravam de tudo: produtos de mercearia, armarinhos, perfumaria, presentes, secos e molhados, ferragens e tecidos. Os produtos ficavam em grandes prateleiras, a maioria atrás dos balcões de vidro. Os cereais ficavam em grandes sacas e eram pesados e colocados em saquinhos bege de papel. As carnes ficavam expostas, como o charque, lingüiça e salame, já que a carne fresca era encontrada nos açougues. Nesses locais, também não havia pão e nem leite. O pão só era vendido na padaria, pois era assado no forno à lenha. Já o leite era vendido em padarias ou leiterias, em litros de vidro. Também havia quem comercializasse o produto vindo de seu próprio sítio.
Os fregueses chegavam nessas grandes casas comerciais com suas listas de compra e tudo era separado pelos caixeiros, que também ganhavam uma pequena comissão por cada cliente atendido. Como as pessoas não tinham acesso direto aos produtos, consumia-se apenas o essencial.
Naquela época já haviam casas especializadas em determinados serviços como revendas de carro, farmácias, móveis, calçados, confecções, selarias, discos, sapatarias, alfaiatarias, relojoarias, fotos, papelaria, hotel, açougue, além das agências bancárias.Nos dias de pagamento o movimento era maior, principalmente com a chegada dos fregueses da zona rural. Assim também aumentava o número de carroças, charretes, caminhões e carros circulando. Entre os mais conhecidos estavam Gordine, DKV, Chevrolet, Aero Willians, Sincas Chambord.
Com muita gente indo as compras, os bares daquela rua, como o Bar do Chopp, ficavam lotados. Lá as pessoas comiam a pequena variedade de salgados vendidos e os “tudo de bom” da época: sanduíches de pão com mortadela. Para acompanhar, o guaraná e a sodinha São Luis. Para os que preferem algo mais forte, cerveja ou cachaça, principalmente a da terra. Entre os doces havia delícias como o suspiro, doces de abóbora, queijadinhas. Para se refrescar, sorvetes de massa e picolés, feitos nos próprios bares e sorveterias, principalmente os de Roque Quadrado, um dos melhores “sorveteiros”.
Outro ponto movimentado pela reunião de amigos era o Bar Guarani, onde os irmãos Placca faziam o sanduíche Bauru, além do próprio Cine Guarani. Ali, na sala escura do cinema, os jovens casais bem que tentavam namorar. Mas qualquer abraço mais apertado era logo flagrado e censurado pelos faroletes dos lanterninhas. O “doce” não era o do beijinho das namoradas, mas sim o das balas Chita e Piper.

Footing na praça

Em meados de 70, o famoso “footing” já não era tão forte na Rua 15 e havia sido transferido para a moderna Concha Acústica. Na praça havia som ambiente e, principalmente nos finais de semana, geralmente depois da missa, era grande a concentração de jovens no local. Os rapazes ficavam parados, admirando o desfile das moças, que se produziam especialmente para a ocasião. A Concha Acústica era palco dos primeiros olhares, flertes, bate-papos, dando origem a histórias de amor que perduram até hoje. Porém, nem todos tinham sorte na paquera e alguns moços iam para o bar São Paulo, beber e jogar conversa fora. Na praça, as luzes se apagavam por volta das dez, dez e meia da noite, fazendo com que todos se dispersassem, sinalizando que era hora de voltar para casa. Aqueles que queriam mais diversão subiam para o CSEC, onde aconteciam animados bailes. Chegando lá... tarde demais! A festa havia acabado às 23h.
Hoje, a Rua 15 de Novembro é essencialmente comercial e as modificações na paisagem são gritantes, ao ponto de lençoenses e até especialistas, como arquitetos, afirmarem que a maior poluição na rua é a visual. Poucos prédios restaram e sobreviveram intactos ao desenvolvimento da cidade. Um exemplo de resistência é a residência de Alexandre Chitto. Outros prédios preservam sua fachada, como o Escritório Zillo. Já a Casa Paccola mantém suas raízes, realizando um comércio muito parecido com o daquela época.

Atualizando...

Onde funcionavam algumas das lojas naquela época:
Revenda de carro Chevrolet (no shopping em construção), farmácias: Coração de Jesus (Campanari); Manezinho (Farmais); Popular (Itaú); Júlio Ursaia (Ótica Guarani). Loja de Móveis Moretto (Colombo); Calçados Martins (Beco Amarelo); discos do Alberto (edifício Luiz Paccola); sapataria do Ditinho (XV calçados); alfaiataria Ciccone (Monalisa); relojoaria: Hugo Boso (Granata); Hélio Ramponi (Bradesco); foto Sasaki (HSBC), papelaria Colegial (Pernambucanas); Hotel Anchieta (Lindolar); açougue Santo Expedito (ao lado do Beco Amarelo); Pernambucanas (Romera).
Agências bancárias: Banco Brasileiro de Descontos (Escritório Zillo); Brasul (antiga Casa Cora); Mercantil (Propé); Banco do Brasil (Caixa Econômica Federal), e no andar superior funcionava a Câmara Municipal.
A Caixa Econômica Estadual e o Banespa mantiveram-se no mesmo prédio.

Fontes: Livros “Ontem e Hoje” e “Folhas Esparsas”, de Alexandre Chitto; Terezinha e Meire Chitto; Alexandre Diegoli; Antonio Estrella; Antonio Paccola; Leandro Orsi Brandi.

A vingança da Alice


Alice nos tempos da pós modernidade...



Foi-se o tempo em que mocinhas e bandidos eram totalmente bons ou totalmente maus. Hoje vocês vão conhecer a história de Alice, a mocinha sofrida que enganou e passou a perna no chefe de uma perigosa quadrinha e por isso é heroína da vez.
A vendedora de sonhos Alice foi sequestrada na sua loja de fantasias pelo grupo dos traficantes vermelhos, que se julgavam espertos como coelhos e a mantiveram em cativeiro no início do ano, num buraco no meio de um jardim. Apesar do medo e do sofrimento aquela toca até que lhe foi útil. Com seus poderes mágicos lhe revelam um pouco das crueldades e dos crimes cometidos pelo ser humano, como a violência e o desrespeito ao próximo. A escuridão da toca também ilumina seus pensamentos e apesar de ter os olhos vendados ela pode enxergar melhor a si mesma e seus conflitos interiores.
Felizmente, após dias naquele cativeiro, um senhor, que fabricava chapéus artesanais, viu uma movimentação estranha e chamou o exército branco da paz. E claro, só podia ser um maluco para denunciar um grupo perigoso como aquele. Mas por sorte não lhe aconteceu nada, Alice foi libertada, e hoje ele toma chá tranquilamente na varanda de sua casa.
Sim. Voltando a nossa Alice pós moderna, meses depois deixar o buraco do jardim ela ainda sente os efeitos colaterais daquele lugar fantástico. Os bandidos vermelhos não sabiam que o local lhe envolvia com altas doses de coragem e determinação, as quais foram mais que suficientes para que nossa heroína jurasse vasculhar todos os cantos do mundo em busca de vingança. Inclusive os universos paralelos, virtuais.
O desafio de Alice era encontrar em meio a milhões de páginas na internet o perfil do chefe da gangue vermelha e vencer o monstro do tráfico. E assim nossa mocinha troca seu olhar angelical e jeito de menina indefesa pela astúcia de um Sherlock Holmes. E usando um nome e perfil falso, como uma espiã, apoiada pelo exército branco, a corajosa Alice faz com que o chefe do mal caísse como um pato na sua armadilha. Assim, ainda que a passos de tartaruga, ela mostrou que era possível vencer o vilão, que se julgava tão esperto quanto um coelho e acabou se deixando envolver pela conversa de uma desconhecida sedutora na internet que o arrastou para um buraco. Mas um buraco sem volta. Não é como aquela toca mágica que Alice habitou, mas sim o horrível fosso que são os presídios do país branco. E foi assim que a cabeça do exército vermelho foi decapitada.
Mas como nem sempre as histórias tem um final feliz e o mundo não é só feito de maravilhas, a heroína Alice ainda não se sente totalmente recuperada para encarar a realidade da vida, em que não pode confiar sequer em seus semelhantes, e hoje pensa em vender outro tipo de produto.


Resenha
O filme Billy Elliot (2000) é um bom ponto de partida para discutirmos questões como diversidade e intolerância. A película conta a história de um garoto de 11 anos que decide trocar as luvas de boxe pelas sapatilhas de balé.

O filme
A trama se passa no Reino Unido, durante o governo da primeira ministra Margaret Thatcher, tendo como pano de fundo uma da mais sérias crises sociais, a greve dos mineiros. O pai do garoto, que é órfão de mãe, integra a categoria, sendo um dos que mais incitaram o movimento dos trabalhadores, juntamente com seu outro filho, irmão de Billy. O conflito faz com que a família, já limitada economicamente, tenha ainda mais dificuldade em se manter.
Não bastasse isso, o sensível Billy cresce num ambiente extremamente masculinizado e machista, como indicam algumas falas e situações. A única figura feminina presente, que rompe um pouco com esse universo, é sua avó doente, que por vezes, esquece até que ele é seu neto, ainda que o garoto seja o encarregado de cuidá-la.
Apesar dos problemas financeiros, o pai de Billy faz questão de arrumar os 50 pences todo mês, destinados às aulas de boxe do jovem. Durante uma das aulas o instrutor avisa que os garotos terão que dividir o ginásio com uma turma de bailarinas, que a partir de então farão aulas ali. O olhas de Billy é de encantamento assim que vê o piano sendo trazido para o local, já que ele, que tem o instrumento em casa, é reprimido pelo pai quando quer tocá-lo, não podendo exercitar sua sensibilidade.
Contudo, o que Billy não esperava era apaixonar-se pelo balé. Logo ele, que certa ocasião havia dito a uma amiga que o convidou para a aula que aquilo era coisa de bicha. Depois de levar uma bronca do instrutor que o obriga a ficar treinando até mais tarde, ele vai até a sala de dança entregar as chaves para a professora e fica em estado de graça com o que vê. A mulher o desafia a trocar as botas do boxe pela sapatilha e logo percebe o talento que o menino tem para a dança. Assim, Billy ganhar sua primeira sapatilha e passa a fazer aulas escondido de todos, já que é o único menino naquele ambiente. Mas não sem ouvir comentários negativos. “Pra mim você era macho”, diz o pianista quando ele executa uma espetacular pirueta.
Porém, ele não é capaz de esconder a prática por muito tempo. Além de notas as mudanças em seu comportamento, o pai descobre que as aulas de boxe não estão sendo mais pagas. Quando chega ao ginásio, surpreende Billy envolvido em seus passos de balé clássico. O homem arrasta o filho do local e discute com ele: “Balé é coisa pra bicha”. Além disso, até seu ex instrutor de boxe lhe diz que é uma vergonha para “suas luvas, para o pai e para a academia”. Billy tenta explicar para o pai que muitos bailarinos são como atletas e que nem todos são homossexuais por gostarem de dançar. Mas o homem não aceita. Não há diálogo, apenas intolerância. Definitivamente, para ele balé é algo “errado”, “frescura”. Pai e filho praticamente entram em luta corporal e Billy é obrigado a abandonar as aulas.
Mas com sua vocação para a arte o jovem não consegue ficar muito tempo afastado do balé. Até porque sua professora o inscreve num concurso que vai selecionar alunos para o Balé real e os dois passam a treinar escondidos. E é num desses encontros que Billy lhe mostra uma carta escrita por sua mãe antes de morre, onde ela diz que sempre o amará e pede para que seja sempre ele mesmo. Não por muito tempo. Logo o pai do garoto descobre mas, sensibilizado com a oportunidade de uma vida melhor que a dança pode trazer para a vida de seu filho, apóia a investida. Ele até mesmo volta ao trabalho para poder conseguir dinheiro para a viagem.
Como não poderia deixar de ser, Billy realiza seu exame com perfeição e consegue uma das vagas na escola. Com emoção despede-se da família, da professora e de seu melhor amigo, parceiro durante algumas cenas, que por sinal é gay e não dança. O filme termina com ele já adulto numa apresentação em que é o bailarino principal do “O lago dos cisnes”, tendo seu pai, irmão e o amigo gay – aqui totalmente feminino – na platéia.

O debate
O que pode ser levantado para debate após assistir o filme é até que ponto respeitamos o outro como ele é, com todos seus interesses, opções e opiniões. Billy não é respeitado porque é diferente dos outros garotos. É sensível num mundo machista. O pai e a maior parte das pessoas com as quais ele convive lhes dizem que meninos não dançam, meninos jogam futebol e lutam boxe. E mais: afirmam que homem que dança é homossexual. “Bicha” ou “Maricas”, para utilizar a expressões colhidas do filme. Aqui há uma redução da identidade. Meninos devem ser enquadrados em determinados comportamentos, culturalmente tidos como normais e o que se passa fora dessa moldura, desses limites, é tido como anormal. Os indivíduo com opções sexuais não tradicionais, por exemplo, aqui são vistos como tendo desvio de caráter, já que a família assume que teria vergonha se Billy fosse gay.
Além disso, podemos ir além: A preocupação, no meio social retratado no filme, não se restringe a um sentimento particular paterno, ou familiar. O que mais incomoda é o fato de que os vizinhos, colegas, a sociedade enfim vai comentar sobre a atitude de Billy, o que acabaria desqualificando moralmente seus próprios parentes. E aqui o desconforto é muito mais latente. Naquela época, numa sociedade extremamente machista, na qual os homens da casa apelam até para violência para conseguir seus direitos, é inadmissível que um garoto tenha sua sensibilidade aflorada e voltada para as artes, seja piano ou balé. Naquele ambiente árduo, duro, das minas de carvão, não há espaço para isso. Meninos como Billy eram criados para seguir os passos do pai. O macho, o forte. É a luta, o boxe. Nada da leveza dos movimentos do balé. Ai a vida é uma luta diária. E tudo isso influi na opinião que os personagens tem da arte e do que consideram adequado para um indivíduo do sexo masculino.
Portanto aqui devemos nos atentar para dois caminhos que o debate pode tomar: O do indivíduo que opta, ou gosta, de se relacionar com pessoas do mesmo sexo e que deve ter seu interesse respeitado; e o indivíduo que não se encaixa no roteiro traçado culturalmente como mais adequado para sua pessoa – o que se espera de um homem ou mulher, por exemplo – mas que nem por isso deixa de ser heterossexual. Apesar de serem situações diversas, a defesa resume-se no livre arbítrio de agirem da maneira como quiserem. Não devemos julgar as pessoas que tenha opiniões, interesses sexuais ou hábitos, costumes diversos dos nossos.
O fato é que um dos pontos que chama a atenção no filme é a falta de diálogo. O próprio protagonista, em certa altura, diz que balé é coisa de bicha. Ora, ele diz isso porque cresceu ouvindo esse comentário. Ao tomar contato com a arte percebe que o homossexual pode ser bailarino, mas nem todo bailarino é homossexual. E o mais importante: Ambos os casos merecem respeito. Deste modo, pode-se concluir que o melhor caminho para aceitar as diferenças é o conhecimento. É ele que leva ao diálogo, ao debate, que vai gerar a tolerância e o respeito com a diversidade.
Portanto o filme Billy Elliot é um bom estímulo para se discutir a diversidade sexual, a diversidade de opiniões. Devemos lutar pela queda dos rótulos, pois pessoas não se resumem a etiquetas e não podem ser definidas e condenadas a partir de um gosto em particular. Não devemos criticar seu caráter, condená-las moralmente por atos como esse. O filme é o mote para apresentar novas realidades e perspectivas. A partir dele podemos eleger três questões para discussão: O respeito pela diversidade sexual; o respeito pela diversidade cultural ou profissional e o respeito as pessoas que não se encaixam no padrão histórica e culturalmente imposto.

Ficha técnica:
Titulo original: (Billy Elliot)
Lançamento: 2000 (Inglaterra)
Direção: Stephen Daldry
Atores: Julie Walters , Jamie Bell , Jamie Draven , Gary Lewis , Jean Heywood
Duração: 111 min
Gênero: Drama
Desenvolvimento X Preservação ambiental: Uma trégua pela vida

“Somos os maiores poluidores do mundo, mas se for preciso poluiremos mais para evitar uma recessão na economia americana”. A fala do ex-presidente dos Estados Unidos, George Bush, ilustra as bases da sociedade capitalista, na qual somos motivados a consumir, ter, lucrar, ganhar cada vez mais. Tal lógica não se restringe apenas ao comportamento individual e influencia também o interesse das nações. E não somente o das mais ricas, já que os chamados países subdesenvolvidos almejam atingir o mesmo patamar econômico que os de “primeiro mundo”, só que, a exemplo de Bush, pouco refletem sobre as conseqüências negativas dos seus excessos sobre o meio ambiente.
Essa necessidade de movimentar a economia a qualquer custo faz com que se confunda desenvolvimento com crescimento. Este é feito de modo desordenado, desenfreado, “atropelando” tudo o que encontra pela frente; aquele é estudado, planejado, considera o todo e visa não apenas aumentar os lucros ou melhorar de forma imediata a qualidade de vida da população, mas reflete acerca das consequências a longo prazo. Ou seja, é feito de maneira sustentável.
Entretanto, o conceito de desenvolvimento sustentável, que prega o uso racional dos recursos naturais, para satisfazer as necessidades atuais, preocupando-se em preservá-los para as futuras gerações, é recente. Foi só nos anos 70 que a Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu o primeiro evento de proporções mundiais para discutir o assunto. Portanto, o mundo ainda dá os primeiros passos no que diz respeito aos cuidados com a natureza e ao desejo de reparar danos e abusos que vem sendo cometidos há séculos, motivados especialmente pelo processo de industrialização, assim como por certo avanços científicos e tecnológicos. E hoje as variáveis ambientais já começam a ser incorporadas na medição do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Só que embora ações como essa venham sendo tomadas, a batalha para conciliar desenvolvimento e preservação ambiental continua. E, para que essa convivência venha a ser pacífica, planejamento é uma das principais estratégias.
Mas quando se fala em harmonizar interesses, uma mudança de valores é fundamental. Além de promover a conscientização sobre a ajuda que certas atitudes podem dar ao meio ambiente, como o simples ato de não deixar uma torneira pingando ou de ir trabalhar a pé, deixando o carro na garagem, é necessário repensar e diminuir o consumo, adotando hábitos saudáveis, como a reciclagem e reutilização de materiais. E ainda, especialmente no caso do Brasil, deve haver maior investimento em pesquisas científicas e tecnológicas sobre formas de reaproveitamento de materiais para fabricação de todo tipo de produto, reduzindo impactos no ambiente e o uso de matérias primas, além da busca por novas fontes de energia, que não afetem a camada de ozônio e não aumentem os níveis do chamado aquecimento global, bem como métodos de tratamento de resíduos e de esgoto. Deve-se investir e intensificar estudos sobre os efeitos que todas as construções ou práticas industriais provocam no ecossistema, até porque se uma fábrica, por menos poluição que provoque, corta árvores e planta mudas no lugar, de modo a compensar o dano, esse não se restringe meramente a derrubada daquele trecho da mata natural e pode desequilibrar toda uma região. Esse é o tipo de controle que já ocorre no chamado licenciamento ambiental.
Diante disso, a postura das empresas frente às questões ambientais deve ser um diferencial, que influencie seus lucros. Assim como aquelas que desenvolvem políticas sócio-ambientais costumam ser valorizadas no mercado, pois existem até certificações, exigidas por muitos países, que garantem que determinado produto foi feito seguindo regras de proteção ao ambiente, as que agridem a natureza deveriam ser condenadas e sofrer sanções. Também podem ser executadas leis que reduzam os tributos das que são mais responsáveis nas suas atividades e multem, ou aumentem os impostos, daquelas que não procuram rever suas práticas, revertendo parte desses recursos para projetos sociais, por exemplo. O mesmo pode se dar na hora de comprar um produto: O consumidor o avaliaria não só em relação ao preço e à qualidade, mas também àquilo que está embutido na sua fabricação, como o número de árvores derrubadas, ou o volume de gás carbônico que a empresa emite, assim como o gasto de água em relação ao tempo que a natureza levará para reconstituir o ecossistema, por exemplo.
E no Brasil temos uma questão ainda mais séria: o desmatamento da floresta Amazônica, prática que já se tornou verdadeira epidemia. Para combatê-la, a fiscalização deveria ser maior, com mais pessoal e mais tecnologia, e aqueles que não seguem a legislação deveriam ser punidos, assim como os que exploram a biopirataria, “de olho” nessa riqueza natural. Afinal, trata-se de um terço da reserva de água doce do mundo e de metade do território brasileiro e que influencia fortemente o clima mundial. Contudo, deve-se buscar alternativas para que aquela área também seja aproveitada economicamente, mas de forma responsável, já que na região a exploração da terra e das árvores não beneficia somente grandes madeireiras ou fazendeiros latifundiários, mas também gera empregos para a população local. Ou seja, as questões ambientais, não só na Amazônia, como em todo lugar, tem suas nuanças socioeconômicas. E nessa região especificamente, que por muito tempo foi um tanto esquecida, deve-se olhar para aqueles que tem na floresta sua fonte de renda, de sobrevivência e estimular sua exploração ecologicamente correta, para que não aumente também a exclusão social.
E já que a situação se agrava a cada dia, o Estado poderia implantar uma política pública que, mesmo um tanto polêmica, poderia ajudar na redução do consumo, além de atenuar outros problemas sociais e de renda: o controle da natalidade. Claro que não de maneira radical, restringindo, de forma obrigatória, o número de filhos por casal, mas sim oferecendo orientação sobre métodos contraceptivos e esclarecendo sobre como a adoção dessas pode ajudar na preservação do meio ambiente, ainda que essa seja uma medida bastante controversa, inclusive nos seus resultados.
Outra questão central é a de que os grandes responsáveis pelos danos provocados ao meio ambiente são os países ricos: mais industrializados, consomem mais, produzem lixo e gastam mais energia. Isso é fato, mas não é motivo para que os países em fase de desenvolvimento acreditem que tenham uma cota em a ver no mercado da poluição e degradação do meio ambiente. Claro que países pobres e emergentes não deixarão de consumir, contudo, devem buscar novas formas de desenvolvimento, não cometendo erros semelhantes aos dos mais ricos. Até porque o planeta não aguentaria, como refletiu Gandhi, em documento publicado pela ONG World Wildlife Fund (WWF): “a Grã-Bretanha precisou de metade dos recursos do planeta para alcançar sua prosperidade; quantos planetas não seriam necessários para que um país como a Índia alcançasse o mesmo patamar?”
E para que todos tenham essa consciência a educação ambiental é uma ótima aliada. Ao promovê-la desde a infância, os hábitos são criados e arraigados ao comportamento das crianças, fazendo com que o discurso ambientalista e as práticas como reciclagem, uso responsável dos recursos naturais e redução do consumo, entre outras coisas, por exemplo, que por vezes podem soar maçantes para os adultos, sejam hábitos cotidianos, naturais para eles. Assim essas pequenas ações, que sozinhas parecem não impactar em nada, juntas são capazes de operar milagres.
E por fim, depois de tanto refletir sobre as formas de harmonizar interesses que a primeira vista parecem tão opostos quanto razão e emoção – desenvolvimento X meio ambiente – conclui-se que eles se conciliariam facilmente caso notassem que, na verdade, o que gera o conflito são, basicamente, fatores econômicos. O mundo deve despertar para o fato de que o planeta adoece cada dia mais enquanto cotas de poluição são comercializadas. Portanto, é chegada a hora de, numa atitude altruísta para alguns, sensata para outros, considerar o bem maior que está em jogo: a vida. Até porque, por mais banal que pareça a conclusão, se continuarmos nesse ritmo, em breve a possibilidade de existir vida no planeta Terra estará esgotada e ai nos daremos conta de que exigimos tanto da natureza que acabamos por destruí-la, de tal modo que ela não será capaz sequer de nos oferecer condições mínimas de sobrevivência. Como bem alertou o chefe da tribo americana Suquamish, em carta enviada ao ex-presidente Franklin Pierce, “o que fere a terra, fere também os filhos da terra. O homem não tece a teia da vida; é antes um de seus fios”. Assim, o respeito, a solidariedade e o direito à vida, não só dos seres humanos, mas de todos os organismos vivos deve prevalecer sobre o egoísmo capitalista. E esse é um argumento certeiro, que por si só deveria ser capaz de revolucionar hábitos e valores.
Atividade sobre o texto “Um pouco de história: origens e expansão do português”, do livro “O português da gente – a língua que estudamos, a língua que falamos”, de Rodolfo Ilari e Renato Basso, produzida para a disciplina Morfossintaxe

Análise temática

No texto “Um pouco de história: origens e expansão do português”, para falar sobre a evolução da língua os autores Rodolfo Ilari e Renato Basso recorrem não só ao período de vida do que conhecemos como português, mas fazem uma viagem até suas origens latinas, mostrando-nos que existiram três variedades de latim: o eclesiástico, o literário e o vulgar, sendo que nossa língua derivou desse último, assim como o francês, o espanhol e o italiano.
Ilari e Basso nos contam como a língua foi se estruturando, evoluindo nas suas características sintáticas e fonéticas, afirmando que sua riqueza de flexões nominais e verbais são heranças latinas. Os autores defendem que não houve rupturas entre a língua falada na sociedade portuguesa, anterior ao descobrimento do Brasil, e a que se fala hoje, mas sim uma evolução. Não há mudanças bruscas, mas graduais, até porque uma língua só morre quando não existem mais falantes nativos. O que ocorre na verdade é uma transformação, devido ao seu dinamismo.
E todas essas explicações vem acompanhadas dos fatos históricos que as desencadearam. Assim, eles procuram relacionar o surgimento e evolução do latim com a expansão do império Romano; as invasões bárbaras com o aparecimento de novos falares; a ocupação árabe e o fato de usarmos várias palavras originárias dessa cultura, ainda que o movimento de Reconquista tenha expulsado esses povos daquela região. E em meio a tudo isso a nossa língua vai se formando, adquirindo as características que tem hoje, que a tornam tão rica.
Já o período das grandes navegações colaborou para a difusão, ainda que imposta, do português, que em troca recebeu a influência dos falares dos povos colonizados. Como efeito dessa lusitanização, hoje o português é o oitavo idioma mais falado do mundo e, de acordo com os autores, só não é uma das língua oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) porque os países que o tem como língua oficial não tem peso político e econômico significativos, tampouco tecnologia avançada e um mercado para consumo de produtos midiáticos e editoriais. Devido a isso o português também não é muito procurado quando se trata de estudar um idioma estrangeiro, ainda que tenha sido muito estudado na França, por exemplo, até por conta do grande número de portugueses que migraram para lá.
Outro preocupação dos autores é de mostrar que existem controvérsias quando o assunto é o nascimento e periodização de uma língua, trazendo até uma tabela, com o ponto de vista de vários pesquisadores sobre as “eras” da língua portuguesa. E para mostrar de forma mais clara as modificações da língua, o livro é repleto de textos que as exemplificam.


Análise interpretativa

Se a proposta dos autores Rodolfo Ilari e Renato Basso era nos mostrar “Um pouco de história: origens e expansão do português” eles certamente podem comemorar, pois foram felizes nesse objetivo. Com um texto leve e linguagem simples, mas não sem os cuidados e a profundidade devida, eles nos guiam numa viagem até os tempos mais remotos de nossa língua e de forma didática nos trazem informações que muitas vezes não são transmitidas para os falantes durante sua formação, ainda que a título de curiosidade.
É interessante a forma como eles procuram relacionar as origens e a evolução da língua portuguesa com a história e os fatos que modificaram política e culturalmente a Europa, especialmente a região de Portugal, mas que também tiveram reflexos profundos na nossa língua, como a convivência com outros povos que fizeram com que até hoje usemos muitas palavras de origem árabe, ou ainda a influência que o castelhano teve na nossa fonética, por causa do período em que Portugal foi dominado pelos espanhóis, por exemplo.
Outro diferencial é que os autores buscaram enriquecer suas explicações com textos de diversos tipos das épocas retratadas no livro. Por isso, temos desde poemas até textos jurídicos; de textos noticiosos até a carta de Pero Vaz de Caminha, quando da chegada dos portugueses ao litoral brasileiro. Outras fontes esclarecedoras são a “árvore genealógica” do português e um quadro que esquematiza a periodização da língua de acordo com o ponto de vista de diferentes estudiosos.
Uma curiosidade é que desde o seu surgimento o português apresenta variações, vocabulário e escrita próprios, dependendo do público a que se dirige. Assim tínhamos o latim literário como língua dos documentos oficiais e os documentos destinados ao restante da população escrito nos falares cotidianos. Isso mostra que o domínio da língua era uma questão de diferenciação social, e que favorecia o contato com os documentos oficiais importantes. Afinal, aqueles que não tinham conheciam a norma culta da época acabavam não tendo acesso às leis, por exemplo, assim como ocorre até hoje. Isso serve para ilustrar a importância de se dominar todas as variantes da língua, especialmente a culta, adotada na produção científica e jornalística, ainda que em determinadas situações recorramos a outros falares. E para um futuro professor ter consciência disso é muito importante, pois só assim poderemos mostrar para os alunos mais um dos benefícios de se conhecer a norma culta. Ou seja, devemos ser poliglotas na nossa língua materna, como já disse Bechara. Compreendendo todas as informações disponíveis, em todas suas variantes, a língua não se torna mais um meio de dominação ou de exclusão social.
E já que o assunto é a diversidade linguística, outra consideração importante feita no livro é que o português não derivou do latim eclesiástico nem do literário, mas do vulgar, que era falado pelos soldados e comerciantes romanos durante as suas conquistas. Ou seja, o português é uma língua vernácula, o povo é que construiu essa língua e a tornou aquilo que ela é hoje, lapidando sua escrita e fonética. Portanto, não se deve encarar de forma tão negativa as mudanças, nem ser tão ortodoxo no que diz respeito a suas regras, especialmente na fala. Mesmo porque os teóricos da gramática normativa podem até “bater o pé”, mas não pode obrigar ninguém a segui-la fielmente.
Diante disso, devemos ser mais receptivos e encarar as mudanças com mais naturalidade, analisando o que elas trazem de bom para a comunicação e no que facilitam o uso diário do português, que no fundo é a verdadeira razão de ser de uma língua. Até porque que em pleno século XIV, quem diria que Vossa Mercê, na época forma de tratamento destinada exclusivamente ao rei, seria transformado e usado de cotidianamente pelo povo, tornando-se o pronome de terceira pessoa do singular mais comum: Você. Aliás, tal forma atualmente aparece escrita como “VC” ou mesmo “C”, devido a necessidade de agilidade na comunicação via internet, por exemplo.
Outra questão sobre a qual podemos refletir é o fato de que, apesar de o português ser a oitava língua mais falada do mundo, ele ainda não foi adotado como língua oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). Percebe-se assim que o valor de uma língua está relacionado ao retorno comercial que seus falantes proporcionarão para o mercado, por exemplo, ou ainda a influência política de cada nação no mundo. Ou seja, pouco importa o lado humano, o número de pessoas que a falam, que a utilizam no dia a dia. O que interessa é o peso econômico e político, que faz com que línguas como o francês, que apesar de terem menor número de falantes, sejam escolhidas pela ONU, ainda que nesse caso ele seja considerado uma “línguas de cultura”. Em suma, novamente a língua é reduzida a mercadoria, a instrumento de exclusão.
Essa leitura é bastante prazerosa, especialmente para os interessados na língua, sua história, características, variações, curiosidades e possibilidades, inclusive de melhora do ensino, por meio dos questionamentos que suscita. E para os profissionais da área de Letras é uma fonte instigante, uma bela forma de iniciar suas pesquisas, dando um panorama geral sobre vários assuntos relacionados a língua, pois não é tão profundo a ponto de ser incompreensível para aqueles que nunca tiveram contato com o assunto, mas também não é superficial, é didático e traz informações novas e importantes com esmero, além do cuidado de indicar muitas fontes bibliográficas para futuras leituras. E apesar de ser considerado um livro técnico é muito agradável, daqueles que não conseguimos parar de ler.