quarta-feira, 13 de abril de 2011



Resenha
O filme Billy Elliot (2000) é um bom ponto de partida para discutirmos questões como diversidade e intolerância. A película conta a história de um garoto de 11 anos que decide trocar as luvas de boxe pelas sapatilhas de balé.

O filme
A trama se passa no Reino Unido, durante o governo da primeira ministra Margaret Thatcher, tendo como pano de fundo uma da mais sérias crises sociais, a greve dos mineiros. O pai do garoto, que é órfão de mãe, integra a categoria, sendo um dos que mais incitaram o movimento dos trabalhadores, juntamente com seu outro filho, irmão de Billy. O conflito faz com que a família, já limitada economicamente, tenha ainda mais dificuldade em se manter.
Não bastasse isso, o sensível Billy cresce num ambiente extremamente masculinizado e machista, como indicam algumas falas e situações. A única figura feminina presente, que rompe um pouco com esse universo, é sua avó doente, que por vezes, esquece até que ele é seu neto, ainda que o garoto seja o encarregado de cuidá-la.
Apesar dos problemas financeiros, o pai de Billy faz questão de arrumar os 50 pences todo mês, destinados às aulas de boxe do jovem. Durante uma das aulas o instrutor avisa que os garotos terão que dividir o ginásio com uma turma de bailarinas, que a partir de então farão aulas ali. O olhas de Billy é de encantamento assim que vê o piano sendo trazido para o local, já que ele, que tem o instrumento em casa, é reprimido pelo pai quando quer tocá-lo, não podendo exercitar sua sensibilidade.
Contudo, o que Billy não esperava era apaixonar-se pelo balé. Logo ele, que certa ocasião havia dito a uma amiga que o convidou para a aula que aquilo era coisa de bicha. Depois de levar uma bronca do instrutor que o obriga a ficar treinando até mais tarde, ele vai até a sala de dança entregar as chaves para a professora e fica em estado de graça com o que vê. A mulher o desafia a trocar as botas do boxe pela sapatilha e logo percebe o talento que o menino tem para a dança. Assim, Billy ganhar sua primeira sapatilha e passa a fazer aulas escondido de todos, já que é o único menino naquele ambiente. Mas não sem ouvir comentários negativos. “Pra mim você era macho”, diz o pianista quando ele executa uma espetacular pirueta.
Porém, ele não é capaz de esconder a prática por muito tempo. Além de notas as mudanças em seu comportamento, o pai descobre que as aulas de boxe não estão sendo mais pagas. Quando chega ao ginásio, surpreende Billy envolvido em seus passos de balé clássico. O homem arrasta o filho do local e discute com ele: “Balé é coisa pra bicha”. Além disso, até seu ex instrutor de boxe lhe diz que é uma vergonha para “suas luvas, para o pai e para a academia”. Billy tenta explicar para o pai que muitos bailarinos são como atletas e que nem todos são homossexuais por gostarem de dançar. Mas o homem não aceita. Não há diálogo, apenas intolerância. Definitivamente, para ele balé é algo “errado”, “frescura”. Pai e filho praticamente entram em luta corporal e Billy é obrigado a abandonar as aulas.
Mas com sua vocação para a arte o jovem não consegue ficar muito tempo afastado do balé. Até porque sua professora o inscreve num concurso que vai selecionar alunos para o Balé real e os dois passam a treinar escondidos. E é num desses encontros que Billy lhe mostra uma carta escrita por sua mãe antes de morre, onde ela diz que sempre o amará e pede para que seja sempre ele mesmo. Não por muito tempo. Logo o pai do garoto descobre mas, sensibilizado com a oportunidade de uma vida melhor que a dança pode trazer para a vida de seu filho, apóia a investida. Ele até mesmo volta ao trabalho para poder conseguir dinheiro para a viagem.
Como não poderia deixar de ser, Billy realiza seu exame com perfeição e consegue uma das vagas na escola. Com emoção despede-se da família, da professora e de seu melhor amigo, parceiro durante algumas cenas, que por sinal é gay e não dança. O filme termina com ele já adulto numa apresentação em que é o bailarino principal do “O lago dos cisnes”, tendo seu pai, irmão e o amigo gay – aqui totalmente feminino – na platéia.

O debate
O que pode ser levantado para debate após assistir o filme é até que ponto respeitamos o outro como ele é, com todos seus interesses, opções e opiniões. Billy não é respeitado porque é diferente dos outros garotos. É sensível num mundo machista. O pai e a maior parte das pessoas com as quais ele convive lhes dizem que meninos não dançam, meninos jogam futebol e lutam boxe. E mais: afirmam que homem que dança é homossexual. “Bicha” ou “Maricas”, para utilizar a expressões colhidas do filme. Aqui há uma redução da identidade. Meninos devem ser enquadrados em determinados comportamentos, culturalmente tidos como normais e o que se passa fora dessa moldura, desses limites, é tido como anormal. Os indivíduo com opções sexuais não tradicionais, por exemplo, aqui são vistos como tendo desvio de caráter, já que a família assume que teria vergonha se Billy fosse gay.
Além disso, podemos ir além: A preocupação, no meio social retratado no filme, não se restringe a um sentimento particular paterno, ou familiar. O que mais incomoda é o fato de que os vizinhos, colegas, a sociedade enfim vai comentar sobre a atitude de Billy, o que acabaria desqualificando moralmente seus próprios parentes. E aqui o desconforto é muito mais latente. Naquela época, numa sociedade extremamente machista, na qual os homens da casa apelam até para violência para conseguir seus direitos, é inadmissível que um garoto tenha sua sensibilidade aflorada e voltada para as artes, seja piano ou balé. Naquele ambiente árduo, duro, das minas de carvão, não há espaço para isso. Meninos como Billy eram criados para seguir os passos do pai. O macho, o forte. É a luta, o boxe. Nada da leveza dos movimentos do balé. Ai a vida é uma luta diária. E tudo isso influi na opinião que os personagens tem da arte e do que consideram adequado para um indivíduo do sexo masculino.
Portanto aqui devemos nos atentar para dois caminhos que o debate pode tomar: O do indivíduo que opta, ou gosta, de se relacionar com pessoas do mesmo sexo e que deve ter seu interesse respeitado; e o indivíduo que não se encaixa no roteiro traçado culturalmente como mais adequado para sua pessoa – o que se espera de um homem ou mulher, por exemplo – mas que nem por isso deixa de ser heterossexual. Apesar de serem situações diversas, a defesa resume-se no livre arbítrio de agirem da maneira como quiserem. Não devemos julgar as pessoas que tenha opiniões, interesses sexuais ou hábitos, costumes diversos dos nossos.
O fato é que um dos pontos que chama a atenção no filme é a falta de diálogo. O próprio protagonista, em certa altura, diz que balé é coisa de bicha. Ora, ele diz isso porque cresceu ouvindo esse comentário. Ao tomar contato com a arte percebe que o homossexual pode ser bailarino, mas nem todo bailarino é homossexual. E o mais importante: Ambos os casos merecem respeito. Deste modo, pode-se concluir que o melhor caminho para aceitar as diferenças é o conhecimento. É ele que leva ao diálogo, ao debate, que vai gerar a tolerância e o respeito com a diversidade.
Portanto o filme Billy Elliot é um bom estímulo para se discutir a diversidade sexual, a diversidade de opiniões. Devemos lutar pela queda dos rótulos, pois pessoas não se resumem a etiquetas e não podem ser definidas e condenadas a partir de um gosto em particular. Não devemos criticar seu caráter, condená-las moralmente por atos como esse. O filme é o mote para apresentar novas realidades e perspectivas. A partir dele podemos eleger três questões para discussão: O respeito pela diversidade sexual; o respeito pela diversidade cultural ou profissional e o respeito as pessoas que não se encaixam no padrão histórica e culturalmente imposto.

Ficha técnica:
Titulo original: (Billy Elliot)
Lançamento: 2000 (Inglaterra)
Direção: Stephen Daldry
Atores: Julie Walters , Jamie Bell , Jamie Draven , Gary Lewis , Jean Heywood
Duração: 111 min
Gênero: Drama

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