quarta-feira, 13 de abril de 2011

Memórias da rua 15 de novembro

Que cidade não tem sua rua XV?

Recordando-se a paisagem do Centro da cidade do início da década de 70, especialmente a da Rua 15 de Novembro, o que se nota é que ela era uma rua essencialmente residencial, pois a maioria dos prédios comerciais existentes na época eram anexos às residências. Entre algumas das famílias que viviam ali estão: Aiello, Bosi, Brega, Campanari, Canova, Capoani, Carani, Chitto, Ciccone, Coelho, Coneglian, Faioli, Paccola, Parpinelli e Orsi. Lá também aconteciam importantes eventos, como os desfiles cívicos, comemorativos do aniversário da cidade, e os de blocos carnavalescos.
As principais casas comerciais, e também mais tradicionais, eram a Casa Zillo (atual Escritório Zillo), a Casa Donato (hoje Estacionamento) e a Casa Paccola. Nelas, os lençoenses encontravam de tudo: produtos de mercearia, armarinhos, perfumaria, presentes, secos e molhados, ferragens e tecidos. Os produtos ficavam em grandes prateleiras, a maioria atrás dos balcões de vidro. Os cereais ficavam em grandes sacas e eram pesados e colocados em saquinhos bege de papel. As carnes ficavam expostas, como o charque, lingüiça e salame, já que a carne fresca era encontrada nos açougues. Nesses locais, também não havia pão e nem leite. O pão só era vendido na padaria, pois era assado no forno à lenha. Já o leite era vendido em padarias ou leiterias, em litros de vidro. Também havia quem comercializasse o produto vindo de seu próprio sítio.
Os fregueses chegavam nessas grandes casas comerciais com suas listas de compra e tudo era separado pelos caixeiros, que também ganhavam uma pequena comissão por cada cliente atendido. Como as pessoas não tinham acesso direto aos produtos, consumia-se apenas o essencial.
Naquela época já haviam casas especializadas em determinados serviços como revendas de carro, farmácias, móveis, calçados, confecções, selarias, discos, sapatarias, alfaiatarias, relojoarias, fotos, papelaria, hotel, açougue, além das agências bancárias.Nos dias de pagamento o movimento era maior, principalmente com a chegada dos fregueses da zona rural. Assim também aumentava o número de carroças, charretes, caminhões e carros circulando. Entre os mais conhecidos estavam Gordine, DKV, Chevrolet, Aero Willians, Sincas Chambord.
Com muita gente indo as compras, os bares daquela rua, como o Bar do Chopp, ficavam lotados. Lá as pessoas comiam a pequena variedade de salgados vendidos e os “tudo de bom” da época: sanduíches de pão com mortadela. Para acompanhar, o guaraná e a sodinha São Luis. Para os que preferem algo mais forte, cerveja ou cachaça, principalmente a da terra. Entre os doces havia delícias como o suspiro, doces de abóbora, queijadinhas. Para se refrescar, sorvetes de massa e picolés, feitos nos próprios bares e sorveterias, principalmente os de Roque Quadrado, um dos melhores “sorveteiros”.
Outro ponto movimentado pela reunião de amigos era o Bar Guarani, onde os irmãos Placca faziam o sanduíche Bauru, além do próprio Cine Guarani. Ali, na sala escura do cinema, os jovens casais bem que tentavam namorar. Mas qualquer abraço mais apertado era logo flagrado e censurado pelos faroletes dos lanterninhas. O “doce” não era o do beijinho das namoradas, mas sim o das balas Chita e Piper.

Footing na praça

Em meados de 70, o famoso “footing” já não era tão forte na Rua 15 e havia sido transferido para a moderna Concha Acústica. Na praça havia som ambiente e, principalmente nos finais de semana, geralmente depois da missa, era grande a concentração de jovens no local. Os rapazes ficavam parados, admirando o desfile das moças, que se produziam especialmente para a ocasião. A Concha Acústica era palco dos primeiros olhares, flertes, bate-papos, dando origem a histórias de amor que perduram até hoje. Porém, nem todos tinham sorte na paquera e alguns moços iam para o bar São Paulo, beber e jogar conversa fora. Na praça, as luzes se apagavam por volta das dez, dez e meia da noite, fazendo com que todos se dispersassem, sinalizando que era hora de voltar para casa. Aqueles que queriam mais diversão subiam para o CSEC, onde aconteciam animados bailes. Chegando lá... tarde demais! A festa havia acabado às 23h.
Hoje, a Rua 15 de Novembro é essencialmente comercial e as modificações na paisagem são gritantes, ao ponto de lençoenses e até especialistas, como arquitetos, afirmarem que a maior poluição na rua é a visual. Poucos prédios restaram e sobreviveram intactos ao desenvolvimento da cidade. Um exemplo de resistência é a residência de Alexandre Chitto. Outros prédios preservam sua fachada, como o Escritório Zillo. Já a Casa Paccola mantém suas raízes, realizando um comércio muito parecido com o daquela época.

Atualizando...

Onde funcionavam algumas das lojas naquela época:
Revenda de carro Chevrolet (no shopping em construção), farmácias: Coração de Jesus (Campanari); Manezinho (Farmais); Popular (Itaú); Júlio Ursaia (Ótica Guarani). Loja de Móveis Moretto (Colombo); Calçados Martins (Beco Amarelo); discos do Alberto (edifício Luiz Paccola); sapataria do Ditinho (XV calçados); alfaiataria Ciccone (Monalisa); relojoaria: Hugo Boso (Granata); Hélio Ramponi (Bradesco); foto Sasaki (HSBC), papelaria Colegial (Pernambucanas); Hotel Anchieta (Lindolar); açougue Santo Expedito (ao lado do Beco Amarelo); Pernambucanas (Romera).
Agências bancárias: Banco Brasileiro de Descontos (Escritório Zillo); Brasul (antiga Casa Cora); Mercantil (Propé); Banco do Brasil (Caixa Econômica Federal), e no andar superior funcionava a Câmara Municipal.
A Caixa Econômica Estadual e o Banespa mantiveram-se no mesmo prédio.

Fontes: Livros “Ontem e Hoje” e “Folhas Esparsas”, de Alexandre Chitto; Terezinha e Meire Chitto; Alexandre Diegoli; Antonio Estrella; Antonio Paccola; Leandro Orsi Brandi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário